Jovem empreende e valoriza o artesanato local


Gilberlane Oliveira Arruda, 22, reside na comunidade de Muquém, em Pentecoste/CE. Desde muito jovem, já demonstrava autonomia nas tarefas de casa. A primeira atividade foi na agricultura com o pai aos dez anos.

Filho de Maria Ecilda e Gilberto Honório, Gil, como é conhecido por todos, sempre foi dedicado e disposto a ajudar os pais quando solicitado. Ecilda conta que o incentivou ainda pequeno a bordar e costurar por achar muito cansativo para o filho trabalhar na agricultura e outras atividades braçais por pouca remuneração.

“Enxerguei que, se ele aprendesse a bordar, iria ganhar mais, ficar mais próximo a mim e se desgastaria menos. Lembro que ele, no início, se escondia das visitas quando estava bordando ou costurando por achar que ainda não estava preparado para assumir a nova ocupação. Era engraçado. Eu chamava a atenção dele, explicando que não era só mulher que fazia aquilo, até que ele perdeu a vergonha e começou a se dedicar a atividade”.
Gilberlane Oliveira com a mãe Ecilda Oliveira e a avó Maria Zilda

Ecilda relata que o filho foi um dos poucos jovens da comunidade que fez diferente, que quis permanecer e ficar próximo à família e que a mãe dela, Maria Zilda, 78, ficou feliz por ver o neto dando continuidade a um trabalho passado por gerações. “É muito bom ficar com os filhos próximos de casa, principalmente trabalhando e ajudando, Gil aprendeu a bordar e costurar comigo, eu aprendi com minha mãe e ela com minha vó e por aí vai. Ela ficou muito feliz quando soube que seu neto iria dá continuidade aos costumes da família, e eu também fiquei né”, relata.

Gil era dedicado em casa e também no colégio. Durante todo o Ensino Básico, o jovem conciliava as atividades escolares com a agricultura e serviços de casa. Aos dezessete anos, concluiu o Ensino Médio. Naquela época, Gil já sabia bordar e costurar, mas, naquele momento, não enxergava como uma atividade rentável.

Foi, então, que surgiu a oportunidade de trabalhar como vendedor na região com Rafael, amigo que residia na comunidade e que mais tarde viria a ser seu cunhado. Durante dez meses, Gil se dedicou à atividade de vendedor. Apesar de ocupar muito seu tempo a ponto de sair muito cedo e chegar só de noite, ele era bem remunerado e supria suas necessidades daquela época.

Visão Empreendedora

No ano posterior, já com dezenove anos, surgiu a oportunidade de Gil ingressar no Curso de Empreendedorismo e Gestão de Negócios do Programa Jovem Empreendedor Rural (PJER) da Adel. Soube do curso por intermédio de outro jovem que já havia ingressado. Após receber o incentivo, ficou interessado e decidiu então conciliar as atividades de vendedor com a formação.
Gilberlane Oliveira

“Inicialmente me inscrevi no curso só por curiosidade. Meu amigo Alisson me indicou e falou da oportunidade, ai decidi participar. Foi durante a formação, que surgiu em mim o desejo de verdade de empreender na área de costura porque eu tinha o conhecimento prático, só que faltava o técnico para poder saber botar o negócio pra frente, sem falar do crédito que tive acesso após a formação. Foi um ótimo incentivo para colocar meu empreendimento”, afirma Gil.

O jovem conciliou o curso com as atividades de cobrança. Apesar de ter se afastado das vendas, ainda continuou no negócio de outra forma. Também retornou a bordar com a mãe. Dessa vez, sendo remunerado e fortalecendo ainda mais o desejo de investir no próprio negócio. Gilberto, pai de Gil, sempre apoiou o filho nas decisões e incentivou a investir nas oportunidades existentes na região.

“Sempre incentivei ele em tudo que fazia. Apesar das dificuldades da comunidade, eu via que tinha como ele permanecer aqui e ganhar seu próprio dinheiro. Ele aprendeu com a mãe a bordar, entrou no curso e hoje está aqui próximo da gente, fazendo sua própria renda e ajudando a comunidade e a nossa família”.

Artesanato e desenvolvimento

No final de dezembro de 2013, Gil concluiu o curso e, no ano posterior, acessou a linha de crédito do Fundo Veredas, iniciativa da Adel para apoiar financeiramente empreendimentos de jovens empreendedores rurais. Após o acesso, Gil deu início ao negócio dele e ao relacionamento com Juliana, 19, jovem da comunidade, irmã de Rafael, que logo tornou-se parceria no empreendimento e lhe auxilia diretamente nas costuras.
Residência e empreendimento do casal Gilberlane e Juliana

Depois de um ano, Gil já havia comprado as máquinas e materiais necessários e estava empreendendo com Juliana na casa dos pais dele. Em 2015, eles construíram a própria casa na comunidade de Muquém e organizaram um espaço para o negócio.

Inicialmente, ele decidiu trabalhar com a produção de jalecos. Ele conta que o primeiro desafio foi cortar e costurar. Mas, sua força de vontade lhe fez buscar esse aprendizado. Na primeira oportunidade que foi para a casa da irmã em Maranguape, contatou uma senhora para lhe ensinar em troca de uma simples galinha caipira.
O casal de empreendedores, Juliana e Gilberlane


















Após três anos de implantação do empreendimento, Gil e Juliana sonham em ampliar a produção de jalecos e diversificar o trabalho com artesanato. Hoje eles costuram uma média de 200 a 300 jalecos por mês e contam com o trabalho de seis bordadeiras da comunidade.

Gil é um dos jovens beneficiados pelo Programa Jovem Empreendedor Rural da Adel que conta este ano, com o apoio do Instituto Carrefour, Manos Unidas, Instituto Oi Futuro, Fundação Interamericana, Fundo Caixa Socioambiental e Prefeitura Municipal de São Gonçalo do Amarante. Ele enxergou nos bordados, a oportunidade de obter uma renda e colaborar com o desenvolvimento da sua comunidade.